Pergunte às pessoas o que elas acreditam e provavelmente você vai ter uma variedade do que elas querem, do que elas ouviram dizer e do que parece razoável ou, segundo a pesquisa, é o mais provável de ser louvado. Elas acreditam nas coisas que estão afirmando? Na maioria das vezes a resposta é não. Mas cave por baixo das crenças afirmadas delas e você vai encontrar as reais crenças que estão moldando comportamentos e criando a realidade.
Crenças reais, escolhidas deliberadamente ou metodicamente doutrinadas, criam um modelo para o que você percebe e como você interpreta. Durante momentos ordinários de consciência estes modelos fazem você perceber certas coisas e não peceber outras. Mudar uma crença real pode mudar o seu estado de espírito, pode mudar em que você presta atenção e pode mudar o que você vê. Uma crença real pode na verdade fazer objetos desaparecerem de sua consideração.
Um mágico hipnotizou um homem e pediu para ele tirar os sapatos. Ele tirou. Em seguida, o hipnotizador colocou uma crença (ele chamou isso de sugestão pós-hipnótica) que quando o homem acordasse ele não veria mais os sapatos. Então, os sapatos foram colocados no chão, em plena vista, a poucos metros à frente da cadeira da pessoa..
O hipnotizador contou de trás para frente de 5 a 1 e a cada número, falava que o homem estava despertando gradualmente e que quando ele ouvisse 1, estaria totalmente desperto, se sentindo feliz e reanimado.
O homem despertou sorrindo como se nada houvesse ocorrido. “Desculpe”, disse ele, “acho que não sou uma boa pessoa para isso.”
O hipnotizador apontou para os pés do homem e perguntou: “Onde estão os seus sapatos?”
Por um instante o homem ficou confuso por estar sem sapatos. Ele olhou ao redor, olhou em direção onde estavam os sapatos sem vê-los e finalmente, respondeu que não estava usando sapatos.
O hipnotizador o pressionou. “Você quer me dizer que você veio para o teatro esta noite, sem sapatos?”
A plateia riu e ele começou a contorcer-se e tornou-se defensivo. “Sim”, disse, “Eu sempre faço isto!”
“Você vem ao teatro sem sapatos?”
“É a minha maneira de protestar”, afirmou o homem.
“Posso perguntar, o que você está protestando?” perguntou o hipnotizador.
“Estou protestando um sistema que me obriga a fazer coisas que eu não quero fazer”, ele afirmou.
“E você não quer usar sapatos?” perguntou o hipnotizador.
“Isso mesmo.”
O hipnotizador apontou diretamente para os sapatos, tocou neles e bateu com eles no chão. “Não são estes os seus sapatos?”
A pessoa ficou com os olhos parados durante vários segundos, sua mente começou a registrar os sapatos a sua frente e depois verificou que os sapatos eram os seus.
“Oh sim, eu os tirei quando subi no palco para que eu não caísse. Eles são novos e as solas ainda estão escorregadias.”
O que é verdadeiramente notável sobre este evento é que a crença colocada pelo hipnotizador, não só provocou os sapatos desaparecerem da percepção do homem, mas também levou a mente dele a criar uma explicação razoável para a falta dos sapatos.
Naturalmente, a explicação razoável não era a verdadeira causa da experiência. A explicação razoável era uma crença afirmada criada após o fato. A verdadeira causa da experiência era algo próximo da crença: quando eu acordar, não vou ser capaz de ver os meus sapatos, embora eles estejam bem na minha frente.
A crença transparente, hipinoticamente sugerida, pode criar um modelo mental que faz com que a mente perceba seletivamente.
A principal diretriz da mente, sua razão de ser, é fazer sentido do que é percebido. Neste caso, ela não só criou uma explicação, mas também a decora com uma nova crença criada do nada: “Eu estou protestando um sistema que me obriga a fazer coisas que eu não quero fazer.” Agora a pessoa está vivendo com uma mentira.
Porque o homem não disse apenas, “eu não sei onde estão os meus sapatos?” Esta teria sido uma resposta honesta, mas que teria forçado sua mente a um estado vulnerável de não saber. Não saber pode ser humilhante, como também perigoso. Uma resposta comum para não saber é se engajar em especulações, suposições e delírios.
Alguns psicanalistas dirão que este é um mecanismo de defesa: um meio de evitar uma ameaça potencial à auto-estima ou um conflito com a auto-imagem. É uma mente sofrendo de dados incompletos e utiliza a sua própria imaginação para fazer a si mesma certa e proteger a auto-estima. As pessoas não toleram facilmente um estado de não saber e muitas vezes escolhem distorcer a realidade, ao invés de sofrerem vulnerabilidade. Este é o caminho que o hipinotizado escolheu.
Nosso homem estava compensando os dados incompletos causados por um tipo particular de crença implantada, mas semelhantes mecanismos de defesa podem ser encontrados por toda espécie de crenças transparentes. A mente tem um profundo desejo de estar certa e esse desejo pode levá-lo a afirmar coisas que você realmente não acredita. Isto complica o que seria de outra forma uma conexão clara entre crenças reais e a experiência.
Extraído de Tempos de Avatar número 13, Por Harry Palmer